Evídio Zimmer
Categoria: FICÇÃO CIENTIFICA
Aguarde para breve A ESTRANHA CURA
Categoria: FICÇÃO UFOLÓGICA
INTRODUÇÃO
Antes de entrarmos na história achei necessário dar algumas explicações para que o leitor possa melhor se situar. Jang e Jerle são dois amigos cientistas e que juntos criaram a JJ PESQUISAS, uma empresa voltada para a busca de novas tecnologias. Eles trabalham em colaboração com outros cientistas e cosmonautas, entre eles o CAPITÃO OITO, intitulado O AGENTE ESPACIAL, com quem dividirão esta história que falará sobre o BIG-BANG.
(Esta primeira parte da história é narrada por Jerle)
Eu estava em minha sala analisando a foto de uma constelação quando tocou o videofone. Com um toque fiz aparecer na tela do computador o rosto de quem estava chamando. Era o Capitão Oito. Atendi imediatamente.
- Em que posso servi-lo?
Não sei se isso era uma maneira gentil de receber um amigo, perguntando logo em que poderia servi-lo. Por outro lado, a diplomacia não era o meu forte.
Ao invés de falar digitou apenas SQ/PS-2000. Fiquei olhando para aquilo tentando saber do que se tratava. Depois de consultar um arquivo da minha memória respondi cordialmente.
- Sei do que se trata.
- Eu também. Você tem detalhes?
- Trata-se de uma estrela muito distante. Calculamos que esteja quase no limiar do universo. Posso buscar mais informações nos computadores.
- Não é preciso, seu imbecil. As informações que estão em seu computador, também estão no meu.
Ficamos em silêncio por alguns segundos. Esperei ele tomar a iniciativa.
- Eu queria que você perguntasse o que afinal eu queria com isso!
- Pois então diga! - Às vezes ele quase me irritava. Conheço o pai do Capitão Oito e sei que foi dele que ele herdou essa soberba toda.
- Certamente você nunca ouviu falar de Kein Hispo 258.
Não respondi de imediato. Tentei descobrir do que se tratava, mas não foi possível.
- Por esse nome não. Quer me dar mais detalhes?
- Eu recebi um comunicado dessa entidade, dessa pessoa ou sei lá do que se trata.
- Ele pelo menos disse o que queria?
- Sim, meu caro Jerle. Ele quer um encontro. Tem um grave problema para resolver. Pediu-me que entrasse em contato com os melhores cientistas.
- Se ele quer os melhores, porque será que não começou comigo?
` - Uma questão de Marketing, você é inteligente, mas pouco conhecido.
- Está certo, está certo.
Pedi para que o computador me desse à localização exata do Capitão Oito, o Agente Espacial. O computador disse que ele estava em casa, falando do seu escritório.
- Você já entrou em contato com outra pessoa?
- Não, Jerle. Recebi a mensagem ontem à noite, fiz então uma busca para saber exatamente de onde tinha partido. Descobri que vinha da região que você descreveu. Depois tentei saber quem era esse tal de Kein, mas nada encontrei. Não sei se é uma entidade ou uma pessoa, digo um alienígena.
- E o problema?
- Também não especificou.
- Você pesquisou na cosmonet?
- Não, eu pensei em deixar isso para o Jang, sei que ele é vidrado nisso.
- Posso falar com ele, aliás, estava pensando em procurá-lo para outro assunto. Posso incluir esse na pauta.
Pelo que entendi esse ser viria para uma reunião a fim de resolver um grave problema. Ninguém atravessa o universo se não tem um grande problema para resolver. Finalizei o meu trabalho e fui até Jang. O encontrei conectado na cosmonet. Estava empenhado em novas tecnologias desenvolvidas em Marte. A pequena população daquele planeta enfrentava problemas com certos metais e os cientistas estavam obtendo grandes avanços e Jang se interessava nas novidades.
Ele me indicou uma cadeira sem afastar os olhos da tela.
- Já converso - disse rapidamente - estou finalizando.
Ele foi rápido. Encerrou o trabalho e ficou totalmente à vontade.
- Quer um café?
- Sim, eu quero.
Jang levantou-se e foi até uma mesinha no canto da sala e serviu dois cafés. Ele nem perguntou como eu queria o meu. Já me conhecia o suficiente. Sabia que sempre tomo café sem açúcar e sem adoçante, totalmente ao natural.
- O que lhe trás até a minha sala?
- Um problema interplanetário ou intersolar.
- Como assim? - perguntou Jang enquanto engolia seu café.
Antes de responder eu também tomei o meu café. Fui até a garrafa e servi mais um.
- Recebi uma comunicação do Capitão Oito sobre um tal de Kein Hispo 258. Sabe do que se trata?
- Não faço a menor idéia. É homem?
- Não sei.
- Como não sabe? - Disse impressionado enquanto levantava da cadeira em que recém tinha sentado.
Olhei em volta para estudar a melhor maneira de contar a história. Mas ela também não era tão complicada. Jang era um cientista inteligente e seria fácil fazê-lo entender.
- Recebi uma ligação do Capitão Oito. Ele colocou na tela a sigla SQ/PS-2000. Respondi que sabia do que se tratava.
- Eu também sei. - Jang voltou a sentar.
- Depois ele colocou na tela o nome Kein Hispo 258. Pensei por alguns segundos, mas não encontrei nada no meu arquivo mental. Respondi-lhe que não tinha a menor idéia. Pra complicar a situação, ele nem sequer soube me dizer se era um ser ou uma entidade.
Jang riu.
- O que ele quer, afinal?
- Pelo que entendi o Capitão Oito vai receber a visita desse Kein, seja lá o que for. Uma coisa é certa: ele precisa de ajuda. Quer se reunir com os maiores cientistas da terra. Tem um problema muito grave para resolver.
Jang andou em volta.
- Para vir de tão longe, deve realmente ter um problema e tanto.
- Pois é. Precisamos reunir algumas autoridades.
- Não se preocupe. Farei os contatos. Quando será?
- Ainda não sei. Tente contatar o Capitão.
Passaram-se alguns dias até que o Capitão Oito retornou. Ele disse que Kein havia feito novo contato. Foi mais detalhista, disse que viria sozinho, que era um ser, ou uma pessoa. Deu inclusive a data, viria dentro de um mês terra.
- Ele deu detalhes do problema?
- Sim, disse que era sobre o big-bang.
Fiquei imaginando o que um ser do outro lado do universo queria vindo até nós para falar do big-bang, uma mera teoria, nem sequer aceita por todos os cientistas.
- Ele fala sério, Capitão?
- Deve falar meu caro Jerle.
Alguns dias depois eu e Jang fomos fazer uma visita ao Capitão Oito a fim de falarmos mais sobre o nosso visitante. Um dos seus funcionários estava nos aguardando em frente ao prédio onde ficava seu laboratório particular. Todo aquele complexo havia sido criado pelo seu pai, o Capitão Sete, um exímio cientista. Durante toda a sua vida pesquisou combustíveis alternativos e acabou encontrando muitos meios de se fazer uma nave flutuar pelo cosmos. Tudo isso havia sido aproveitado pelo filho, que sempre atuou sozinho, separado de outros cientistas e que passava muito mais tempo no espaço do que em terra firme.
- O patrão está na sala de conferencias 4 - disse o funcionário. Sabíamos onde ficava essa sala, mesmo assim ele nos acompanhou até ela.
- Aqui estamos, disse Jang. - Cumprimentei-o com um aperto de mão. Ele e eu estávamos sempre mais próximos do que ele e Jang. Eu compreendia melhor a sua excentricidade. Jang preferia cientistas mais abertos, que costumavam trabalhar em grupo.
- Sintam-se a vontade - ordenou - Kein fez mais um contato. Disse que estava próximo.
- Ele adiantou detalhes?
- Enviou um pequeno relatório via e-mail. Segundo esse relatório, ele virá sozinho e quer falar sobre o big-bang. Disse que estava preocupado e que o problema é maior do que se imagina.
- Aonde iremos recebê-lo?
- Pensei em nos reunirmos no meu salão nobre. Tenho ali toda a tecnologia de que iremos necessitar.
- Por mim tudo bem, disse Jang. Tenho certeza de que lá no seu íntimo ele quis dizer: você nunca iria querer se reunir na minha base.
Assim que combinamos todos os detalhes eu saí. Jang, apesar dos pesares ficou. Queria trocar idéias sobre a cosmonet. Como o Capitão viajava muito pelo universo, isso lhe dava certa vantagem sobre Jang.
(Episódio narrado pelo Capitão Oito, o Agente Espacial).
Nas minhas diversas viagens pelo cosmo conheci muitas pessoas. Não lembro de um único ser que tenha dito ser de SQ/PS-2000. Claro que esse nome é uma denominação universal. Lá eles têm outro nome, como nós também possuímos um nome universal e um local. SQ\PS-2000 fica nos confins do universo, portanto muito distante, nunca pensei em ir até lá. Nem sequer pensei em receber alguém daquele mundo. Também não esperava ser conhecido por essas bandas.
Tomara que eu consiga algumas informações sobre naves, talvez tenham uma forma mais rápida para viajar pelo cosmos. Isso ajudaria na minha ânsia de viajar e conhecer o mundo.
Rapidamente a notícia se espalhou. Meu e-mail ficou entupido. Muitos cientistas queriam informações. Pacientemente respondi a todos. Dei uma resposta padrão, dando a localização universal e o pouco de conteúdo do pedido de ajuda que recebi. Muitos se candidataram a participar da reunião, mas eu não aceitei. Quanto menor o número de pessoas, melhor, menos confusão. Com certeza haveria muitas perguntas. Foi enquanto eu pensava em todos esses acontecimentos que recebi uma ligação telefônica. Era do Jerle.
- Fala Jerle. Alguma novidade?
- Já temos catalogados vinte cientistas. Você acha que é o suficiente?
Fiquei pensando que se um souber tudo o que for necessário, será o suficiente.
- São cientistas gabaritados?
- Sim. Incluí todas as áreas, geologia, física, química, espacial, etc. Incluímos até um filósofo e um teólogo.
Acho que essa miscigenação pode dar certo. Em todo caso, poderemos hospedá-lo por mais tempo e contatar outros cientistas.
Depois que encerrei o diálogo com Jerle eu fui até o meu computador e procurei informações a respeito de SQ. Tratava-se realmente de um sistema solar nos confins do universo. Era o último sistema solar. Depois dele havia um vazio e a suspeita do fim. Como imaginamos que o universo ainda está em expansão. Isso significava que novos mundos poderiam surgir. O encontro com Kein poderia dar respostas a todas essas perguntas. Nesse instante fiquei me perguntando como seria morar no fim do cosmos. Para o cidadão comum isso não faria a menor diferença, mas para um cosmonauta deveria ser interessante.
Fiz uma lista das coisas que eu pretendia perguntar-lhe. Planejei também hospedá-lo em minha casa, isso me permitiria um tempo maior para indagar e talvez eu até seja convidado a visitá-lo. Seria ótimo. Talvez Jang e Jerle queiram ter esse privilégio, mas vou batalhar para que seja meu.
(Episódio narrado por Jang)
Fui visitar o Capitão Oito a fim de verificar se tudo estava indo bem. Em menos de 24 horas iríamos receber o ilustre desconhecido e eu estava preocupado. Temia que a sala da reunião pudesse não estar em ordem.
- Aqui está tudo bem - me assegurou o Capitão.
- Eu sei, apenas queria ver o ambiente. Gostaria que fosse algo formal, nada que assuste.
Olhei em volta e vi que estava tudo bem. Testamos alguns equipamentos, microfones, projetores, monitores, tudo funcionava bem.
Olhei para o Capitão, mas não fiz a pergunta. Ele percebeu e quis saber do que se tratava.
- Vamos, desembuche.
- Você não teme um blefe?
- Não, não temo.
- Ele não deveria ter se comunicado de maneira oficial?
- Isso, felizmente não existe mais. A ciência não está mais presa ao Estado. Ele não vem representando seu povo e tão pouco vem implorar ajuda do nosso planeta. Ele quer dialogar com cientistas e por isso não fez uma comunicação oficial.
- Entendo. - fiquei pensativo.
- Uma coisa que não entendo é por que é que ele vem sozinho?
- Isso é fácil, senhor Capitão.
- Então explique.
- Ocorre que ele deve vir numa nave personalizada geneticamente. Deve ser um sujeito muito independente ou alguém metido a besta, que queira resolver tudo sozinho. São tantas perguntas...
Enquanto conversamos fomos até uma sala ao lado, onde ficamos mais a vontade.
- Como funciona isso?
- Lembra de quando os terráqueos começaram a clonar?
Ele acenou com a cabeça dizendo que sim.
- Pois naquela época os cientistas criaram animais com gens humanos a fim de prepararem os órgãos para transplante. Cada animal era criado com o gem de cuja pessoa ele iria munir com os órgãos. Essas naves são fabricadas com produtos orgânicos e recebem gens do seu proprietário. Nas viagens longas, por vezes o piloto se funde com ela, devido à alta velocidade. Como possuem a mesma composição genética, não ocorre lesão e nem rejeição e quando a velocidade baixa, cada um volta ao seu estado normal.
- Onde você aprendeu isso? - perguntou o Capitão Oito quase sem fôlego.
- Vi isso através da cosmonet. É uma tecnologia nova e apenas dois planetas conhecidos a utilizam. Depois do encontro com o nosso visitante lhe darei maiores detalhes. Por outro lado, você deveria viajar menos na nave e mais na cosmonet. Deveria pesquisar mais. Você depende mais das naves do que eu e mesmo assim não se interessa por elas.
- O planeta de onde vem Kein é um dos que utilizam tal técnica?
- Como eu disse: só dois planetas conhecidos. O dele não é conhecido. Eu creio que ele utiliza.
(Episódio narrado por Jerle)
Um dia antes do grande encontro o Capitão e eu conseguimos um contato prolongado com o nosso visitante. Estávamos no meu laboratório espacial quando o contatamos. Ele nos informou que já estava no nosso sistema solar.
- Quantos planetas têm o vosso sistema?
O informamos de que oficialmente eram oito, um bastante pequeno foi rebaixado, do contrário seriam nove.
- Então já cruzei por dois deles, disse-nos num português bastante claro. O seu sotaque lembrava a fala de um inglês já bastante habituado a nossa língua. Olhei para o Capitão que tentava de todas as maneiras captar uma imagem do nosso visitante.
- Tente esse aqui - disse-lhe indicando um botão vermelho na mesa de controle. - Com ele você aciona a busca automática do satélite. - Depois de alguns segundos conseguimos uma imagem nítida. Ele voava em altíssima velocidade.
- Uma nave redonda, ou um disco voador comum, como os muitos que já vi ou pilotei - disse o Capitão Oito.
- Você esperava uma nave diferente?
- Talvez - disse meneando com a cabeça - parece que os modelos são iguais na mente de todos os seres do universo.
- Esse modelo arredondado facilita o deslocamento. Ele se adapta em qualquer ambiente. Um disco quando perde o controle, acaba provocando menos danos, ele gira, muito raramente capota, diferente das outras naves e a outra vantagem é que ele encontra menor resistência no ar e no vácuo se desvia com facilidade de objetos.
A nossa idéia era ver o interior da nave, saber quem estava nela, mas isso não foi possível. Era construída de maneira que não se conseguia ver de fora para dentro. Mesmo tendo janelas com vidro aparentemente transparente não conseguíamos ver nada. A essa altura ele já não estava mais integrado a nave, se é que utilizasse tal sistema. Acredito que sim. Não permitir uma visão de fora para dentro era uma estratégia de defesa. Não estávamos em guerra, mas sempre há uma disputa.
Finalmente chegou o grande dia. Estávamos sobre o edifício da sede dos laboratórios do Capitão Oito. Ali havia uma pista de pouso para pequenas naves. Segundos as descrições, a nave do nosso visitante era pequena e, portanto capaz de pousar sobre o prédio. Entre as pessoas presentes havia cientistas e algumas autoridades políticas. Estava presente o governador do estado e um ministro representando o presidente da república. Eles não iriam participar da reunião, apenas das cerimônias de boas vindas. No encontro no laboratório só cientista.
Ficamos em contato com Kein desde cedo. Seguidamente ele dizia onde estava. Eu estava calmo, tentava curtir cada instante. Já Capitão Oito se mostrava bastante ansioso. Dos cientistas presentes, ele era o de menor estatura. Eu e Jang éramos seguramente os mais altos. Não éramos irmãos, apenas bons amigos e colegas, mesmo assim na estrutura física nos parecíamos. Capitão Oito era baixo, não gordo, mas forte. Combinamos que eu iria receber o visitante. Tinha pensado em transferir essa tarefa para o governador, mas me disseram que seria melhor ele ser apresentado e não apresentar os demais.
Finalmente Kein disse que tinha penetrado na nossa atmosfera. A partir desse instante ele passava a seguir um sinal eletrônico que o conduziria até a plataforma de pouso. Esperávamos que ele viesse direto ao nosso encontro. Mas não é o que ele fez. Deu uma volta completa no planeta e fez manobras de reconhecimento. Nada de errado nisso. Ninguém, por mais que esteja sendo recebido por aliados deve vir no escuro. Depois dessas manobras, que não levou mais de uma hora finalmente ele se tornou visível a olho nu. Sem cerimônias desceu direto até o local indicado. Parou a nave. Ela foi descendo lentamente e a dois metros do chão lançou um tripé, onde ficou apoiada. Depois de cinco minutos uma porta se abriu, descendo uma escada de onde saiu àquela figura de pequena estatura. Não tinha mais do que um metro e sessenta centímetros. Parecia mais um adolescente. Imediatamente me aproximei, estendi a mão e disse:
- Muito prazer, seja bem vindo.
- Senhor Capitão? - perguntou.
- Não, disse-lhe - sou Jerle - e imediatamente apontei para Capitão Oito. Ele se aproximou, cumprimentou-o e tratou de apresentar o resto do pessoal, cumprindo a tarefa que me tinha sido confiada. Não me preocupei com isso. Entre os verdadeiros cientistas ninguém se preocupa com esses detalhes. Interessam-nos só as coisas de ordem científica.
A cerimônia ao ar livre demorou cerca de uma hora. Depois as autoridades e os jornalistas foram dispensados e passamos imediatamente para o laboratório, onde Kein iria expor o verdadeiro motivo da sua vinda.
Jang fez o discurso de apresentação. Foi breve e inteligente. Não perdeu tempo dando o nome e a profissão. Para alguém que veio de tão distante, isso não teria muito sentido. Mesmo que esteja falando a nossa língua, isso não quer dizer que soubesse o que é um geólogo, por exemplo. Talvez os nomes pudessem ter sido citados. Observei que Kein era dotado de uma memória excelente. Ele lembrava o nome de cada pessoa que havia sido apresentada, nunca se enganava.
- Caros amigos - disse pausadamente - sou Kein, vindo do planeta Petro. Do último sistema solar do universo. Faço parte de uma comissão de cientistas que explora o cosmos a procura de novos conhecimentos e da expansão da nossa cultura. Foi graças a essa vontade de conhecer que descobrimos através da cosmonet uma teoria que surgiu em vosso planeta e isso muito nos preocupou.
Todos se entreolharam. Uma teoria nossa que lhes causou preocupação. Eu, Jang e o Capitão Oito já sabíamos do que se tratava.
- Falo da Teoria do Big-Bang, a grande explosão e da expansão do universo. Segundo a vossa teoria, um dia o mundo vai parar a expansão e vai encolher-se novamente.
Uma das cientistas levantou-se e disse:
- Mas senhor, isso não é motivo de preocupação, para isso acontecer, faltam pelo menos vinte bilhões de anos.
- Para vocês! - Disse com muita convicção - Não para nós, que somos os últimos na ida e os primeiros na volta.
Ninguém disse nada. Todos ainda tentavam compreender a preocupação de Kein.
- Vamos imaginar que o mundo se expande como um tapete enrolado. Alguém vai desenrolando ele e ao terminar, começa imediatamente a enrolá-lo novamente. Logo a última parte a ser desenrolada, é a primeira a ser enrolada. Assim, se nós não formos os primeiros, já que o universo ainda está se expandindo, seremos um dos primeiros.
- E em que sentido o senhor quer a nossa ajuda? - Perguntou Capitão Oito.
- Como foram vocês que criaram a teoria, e como faz sentido, gostaríamos de incentivá-los nessa pesquisa e dar-lhes apoio. Possuímos uma tecnologia bem superior a vossa e isso pode ser importante.
Um cientista negro conhecido como Péricles levantou-se e o contestou:
- Se o seu planeta fica no último sistema solar, logo surgiu depois do nosso e, portanto é bem mais jovem. Levando em consideração esses detalhes, porque julga a nossa tecnologia inferior?
Ele não se assustou.
- Pelo fato de idade não ser sinônimo de conhecimento. - fez uma pausa - Estudando a cultura do planeta de vocês, através da cosmonet, descobrimos que vocês passaram por diversas guerras até atingirem um estágio de amadurecimento. Não sei por que motivo, nós conseguimos pular essas etapas e tivemos pouquíssimas guerras, logo encontramos uma fórmula para promover a paz entre os povos e passamos ao desenvolvimento de uma tecnologia saudável. Dessa forma atingimos um avanço muito rápido e sabidamente somos superiores, mas não queremos de forma nenhuma colocar isso como impecilho. Não é de nosso feitio desafiar povos. Buscamos a integração.
Resolvi me manifestar. Levantei o braço num sinal de atenção:
- Para nós o big-bang é uma teoria que ainda necessita de comprovação. Como também não possuímos a menor prova de que o universo vai tornar a se encolher. O senhor acha realmente que isso vai acontecer?
- Vocês estão numa ponta - disse - nós estamos na outra. Chegamos às mesmas conclusões e tudo é possível. Mesmo que isso aconteça daqui a vinte bilhões de anos. Será a nossa geração perpetuada nos seres do futuro. Não podemos ficar de braços cruzados, esperando que no porvir que eles resolvam à questão. Não podemos ser tão irresponsáveis.
Fiquei imaginando o que a ciência poderia fazer contra um mundo que havia resolvido encolher, voltando ao que era antes. E se fosse à vontade de Deus? Nunca entendi corretamente essa afirmação, mas diante das circunstâncias me voltei para ela.
Kein continuou com a palavra:
- Durante séculos passeamos pelo universo procurando conhecer cada canto, imaginando que é nele que viveríamos para sempre. De repente descobrimos que esse cosmos tão bonito e intrigante um dia pode acabar. Isso nos perturbou.
Fiquei imaginando que algumas pessoas não se preocupavam nem com o seu quintal e aí vinha Kein se preocupando com o cosmos.
- Você tem alguma sugestão? - Quis saber Jang.
- Não senhor. - a resposta foi seca e inesperada.
Eu fiquei torcendo para que alguém tivesse uma idéia. Naquele instante milhões de idéias me passaram pelo cérebro. Ironicamente imaginei escrevendo uma carta para Deus. Ou dizendo: senhores, a idéia está lançada. Disquem 0800, dê uma sugestão e concorra a um disco voador com lugar para duas pessoas. - Caros colegas - disse Kein - não vim para exigir uma solução. Vim apenas expor o problema e gerar um debate. A solução virá com o tempo, já que temos vinte bilhões de anos, vamos pensar.
Ficamos ali mais de cinco horas até que resolvemos terminar a reunião, mas não antes de criarmos um site na cosmonet para reunir-mos idéias a fim de encontrar a solução.
FIM
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